Desafios em Psicoterapia Corporal: As tendências Sádicas do Carácter Masoquista e a sua Lamentação
Para a terapêutica do Carácter Masoquista é de especial importância a maneira como o terapeuta consegue penetrar nas barricadas do carácter do paciente, ou seja, como derruba a tendência do paciente para fazer uso do seu sofrimento para lançar culpa sobre o terapeuta.
A descoberta da natureza sádica deste comportamento no masoquista, é o que garante o primeiro passo da análise perante o sucesso, pois traz à superfície o sadismo original que está por trás do masoquismo.
Lamentação como Sadismo Disfarçado: para Reich interessava descobrir o fio vermelho, ou melhor, trabalhar com o masoquista de modo a desatar o novelo da neurose, visto que o fio vermelho é a lamentação em si mesma em forma de sadismo disfarçado; o ódio primário é drenado para o ambiente sob a distorção de impulsos secundários. O terapeuta acabará por lidar todo o tempo com um indivíduo que lançará sobre ele a culpa da sua miséria interior, sendo que o trabalho analítico sobre esse traço comportamental deverá ser constante devido às constantes recaídas;
Tendência ao Recuo: as queixas, o rancor, a auto-destruição e a inépcia que servem como razão para que a pessoa se afaste do mundo, persistem geralmente até que a própria sexualidade da pessoa caminhe para uma descarga orgástica da libido. Embora a personalidade do paciente melhore, as tendências de refúgio ao menor desapontamento ou frustração geralmente continuam por muito tempo;
Conquista de Confiança: se a empatia é fundamental para qualquer tipo de carácter, no caso do masoquista ela é decisiva na conquista da confiança; ele age de maneira a que os outros o depreciem, pois elogiá-lo é o mesmo que atirá-lo para a angústia; deve-se concordar com ele durante algum tempo até que ele se acaba por irritar com o seu próprio veneno, ou seja, levá-lo a assumir o seu sadismo escondido.
Nos processos de transferência de afecto, o masoquista posiciona-se de forma ambivalente perante o terapeuta, amando-o ou odiando-o; quando a transferência é positiva, procura aprovação do terapeuta, esperando sempre que o terapeuta faça por ele, pois afinal este representa a mãe sábia e protectora. Quando o paciente entra na transferência de ódio, os seus sentimentos para com o terapeuta são de desprezo e nojo, hostilidade e ódio, e é exactamente neste estado transferencial que as suas queixas tendem a aumentar; assumindo a ilusão que o terapeuta fará tudo por ele, inclusive que se responsabilizará pelos seus actos.
O terapeuta terá de desenvolver um trabalho paciente e honesto, explicando-lhe quantas vezes for preciso o quanto a sua ansiedade contribui para aumentar a óptica amedrontada que tem do mundo. Por sua vez, o paciente irá forçar o terapeuta através do mecanismo da provocação, principalmente quando encontra justificação para o seu ódio; a provocação esconde um profundo desapontamento amoroso a nível psicológico, enquanto a nível energético ela tem a função de trazer alívio pela resposta agressiva do meio que irá aliviar a congestão da pele e consequentemente, a congestão interna que causa angústia.
Em termos de trabalho energético, num primeiro passo é preciso garantir-lhe o alívio das tensões, trabalhando a sua pesada musculatura, com massagens profundas; recomendando ao paciente que procure fazer exercícios de estiramento para ajudar na sua espasticidade nas regiões da cintura escapular, pernas, pescoço e pélvis; fazê-lo expressar sentimentos de birra, enquanto chuta, esfrega os pés e grita ou resmunga; meios que o podem ajudar na expansão do Ego.
O trabalho com o anel visual deverá ter início depois de algum tempo de expressão de birra e depois de soltar um pouco a couraça do peito e do diafragma, isto porque com a relativa soltura ou abrandamento desses dois segmentos, a energia poderá subir mais facilmente para a cabeça e depois descer.
O trabalho com a birra reprimida, como sejam os exercícios de chutar, socar, queixar, deverá afrouxar as válvulas da manifestação masoquista, através do encorajamento das expressões agressivas.
Estela Rodrigues
